Soneto de um homem sem desejo

Falta-me vontade. Não mais a vejo.
Sinto um vazio, querida menina,
Então foge um valor, é minha sina.
Sim! Falta-me algo na vida: desejo.

Minhas lástimas puseram-se a par:
Nunca vi prazer em homem sequer,
Não sinto agora desejo em mulher,
Foge também o desejo de amar.

Por fim, meu ser carece de um norte.
Pro meu problema não vejo saída
Menos ainda o caminho da morte.

Se me dessem outra vida sofrida,
Não me veria inda com melhor sorte,
Pois me foge também desejo a vida.
Petrópolis, 2004.

Comentários

  1. Quem disser que jamais esteve nesse estado, sem desejo algum, está mentindo. É como a lástima de perder o sentido da vida, é como amar a ninguém, nunca. O soneto é confuso, sim, confuso como não ter prazer. Daí o seu valor, retrata a natureza morta dum espírito desiludido. Somente sinto falta de algo que na verdade falta em grande parte da nossa poesia contemporânea: harmonia entre o acadêmico - rima e métrica - e o lirismo ritmico. Coisa esta que abundava com os românticos, antes do terror moderno - que por sinal adoro - que torna hercúlea a tarefa de compor bons sonetos.

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